A União das Freguesias de S. João das Lampas e Terrugem iniciou-se em 2013, nova realidade imposta pela reforma administrativa.
Não se apagam, contudo, mais de 4 séculos de história de duas Freguesias vizinhas, autónomas, de identidades bem marcadas, com uma coexistência sempre pacífica e colaborante que devem sempre estar presentes e ser respeitadas.
Até ao século XVI, o território que mais tarde viria a constituir a Freguesia de S. João das lampas, permaneceu sujeito à Paróquia de S. Martinho de Sintra.
Dada a grande distância que separava a população da Igreja matriz, o Infante D. Afonso fez publicar, em 1539, o alvará que autorizou os fregueses a nomear pároco com residência fixa em S. João das Porqueiros – antiga designação toponímica da povoação em análise – mantendo embora a ligação a S. Martinho de Sintra. Poucos anos antes, a velha igreja local fora já reconstruída à medida das novas aspirações de autonomia. Dessa campanha de obras evidencia-se o portal manuelino, classificado como Imóvel de Interesse Público, desde 1959.
No virar do século, concretamente em 1600, o nome da povoação – S. João dos Porqueiros – é substituído pela actual designação.
Ainda na primeira metade do século XVII, uma nova sentença eclesiástica veio reforçar a independência da Igreja de S. João Baptista face à Matriz de S. Martinho.
Nas Memórias Paroquiais de 1758, S. João das Lampas surge já como uma das freguesias do Termo de Sintra, judicialmente dependente da Comarca de Alenquer.
De acordo com o Numeramento de 1527, a região de S. João das lampas encontrava-se dividida em cinco vintanas:Açafora com 34 vizinhos; Odrinhas com 37 vizinhos, Poyanos (actualmente Casal de Pianos) com 29 vizinhos; São Joãocom 34 vizinhos e Pernigem com 47 vizinhos.
A Lista das Comarcas do Reino de 1640 regista o total de 215 vizinhos repartidos pelas diferentes vintanas. À vintana de Odrinhas pertenciam então os lugares de Alvarinhos, Amoreira, Areias, Bolelas e Funchal; à de São João, as povoações de Alfaquiques, Arneiro, Bodicaes (sic) e Sacaire (sic); os aglomerados de Bolembre, Fontenelas (sic), Gouveia e Magoute (sic) faziam parte de vintana de Pernigem; os lugares de Catribana, Cortezia, Moucevaria e Tojeira formavam a vintana de Pyanos e a povoação de Açafora constituía com o lugar de Almograve, a Quinta unidade administrativa de S. João.
Nas Memórias Paroquiais de 1758 conta-se, para a sede de freguesia, 110 moradores.
Já no século XIX, na Cintra Pinturesca do Visconde de Juromenha (1838) refere-se a existência de um total de 715 fogos e 3300 moradores dispersos pelos 32 lugares que constituíam então a freguesia.
Em 1940, o número de habitantes da freguesia de S. João das Lampas elevou-se a 4294, registando em 1960, 4946 habitantes. Em 1981, a população a freguesia era de 6838 habitantes. De acordo com os dados do Censo (1991), a população residente totalizava 7690 habitantes passados 10 anos, a população residente na freguesia é de 11397 habitantes ( dados preliminares dos Censos 2011 ) dos quais 8 441 (74%) são eleitores e 2182 (19%) têm idade inferior a 18 anos.
A agricultura dominou, até há pouco tempo, as atenções da população. Os terrenos do planalto de S. João das Lampas são especialmente aptos para a produção de cereais. A cevada, o trigo, o milho, o feijão e a vinha são apontadas nas Memórias Paroquiais setecentistas como as suas principais culturas. Durante a década de 40 deste século, S. João das Lampas detinha o maior número de cabeças de gado bovino relativamente às restantes freguesias do Concelho de Sintra. Oliveira Boléu (1973) faz notar que a inexistência de grandes manadas se relaciona com o facto da criação do gado se acumular, frequentemente, ao cultivo da terra.
Nos nossos dias, a exploração agrícola coexiste com o desenvolvimento da indústria e das actividades ligadas ao turismo. A extensão da costa e a subsistência de núcleos relativamente preservados de arquitectura tradicional fomentam a afluência de um grande número de visitantes à freguesia.
A proximidade do Oceano marcou, desde sempre, o quotidiano da região. Durante o século XVIII, os fregueses de S. João estavam dispensados de enviar soldados ao exército do reino, dado que a vigia da costa ocupava todo a população. No Magoito existem, ainda, os vestígios de uma fortaleza – o Forte de Santa Maria – parcialmente destruído pelo Terramoto de 1755. Esta referência às necessidades de defesa da faixa costeira relaciona-se com os frequentes assaltos protagonizados pelos piratas “mouros”, prática que se encontra muito bem documentada para toda a zona a norte do Cabo da Roca e, muito especialmente, para a área da Ericeira.
Para melhor se compreender o presente, é fundamental conhecer-se o passado. Neste sentido, considerámos pertinente efectuar uma breve “viajem” para usos e costumes das gentes da Terrugem.
Assim sendo, apoiámo-nos na obra Vila Verde – Cem anos de História, de Elvira Lopes, uma natural da Freguesia. (…) No tempo dos meus avós, as mulheres usavam as saias rodadas a cobrir os pés. Isto até ao ano de 1920, aproximadamente. A partir daí, as saias foram subindo. A saia era de baetilha (tecido de flanela de algodão) ou castarino; a blusa de riscado ou chita, o lenço de algodão, ou de lã para as festas, atado à roda da cabeça; o avental bordado, aos Domingos, e de semana um de riscado. O xaile tão característico nas mulheres casadas, passou em desuso a partir de 1940. Era usado para levar o “jantar” ao marido, para abrigar os filhos de mama e em tempo de luto pesado, no caso de pai, mãe, irmãos, etc. A bota de atacadores e presilhas foi substituída por sapatos de botão, a partir de 1930. O avental, Só não era usado em dias de festa. Aliás, as raparigas tinham diversos aventais para usar de semana e ao Domingo à tarde, em dias de baile – ou brincadeira – como era conhecido o termo. Havia também a algibeira atada à cintura, no interior da saia, onde se guardava o dinheiro. O lenço cai em desuso em 1940, só se usando em época de luto pesado. Quanto aos homens, havia a capa para ir ao baile (tipo capa alentejana) e o varino, que se distinguia da capa por ter apenas uma aba nos ombros; o barrete preto e a bota de cano alto. No Inverno e no trabalho, em dias de chuva, usavam polainas, uma espécie de cano que era usado por cima do pé e que abotoava com fivelas. O fato preto era obrigatório no noivo, bem como a camisa de peitilho com rendinhas ou bordados. Era o fato de casamento e o fato de levar para a cova. No trabalho, havia a camisa de riscado com riscas, atada à frente e entrelaçada nas pontas ou fraldas, como se chamava então. A cinta era elemento indispensável no homem.
Costume interessante era o da matança do porco. Uma vez por ano, convidava-se a família mais chegada, isto é, tios e irmãos casados, para comer a cachola e a carne frita (esta no dia seguinte) e dar um jantar de carne aos amigos, que consistia num bom naco de carne, toucinho e chouriço. Por sua vez, as pessoas convidadas faziam o mesmo, aquando da matança do seu porco. Também houve, no tempo do meu pai, grande rivalidade entre Lourel e este lugar. Os homens matavam-se por dá cá aquela palha. Era nos bailes ou serões, como se chamava ao baile também, que as rixas começavam. Muitos homens eram feridos só por passar a Lourel e serem de Vila Verde.
Os homens eram quase todos canteiros de profissão. Muito bons no ofício, granjearam invejas, e daí lhes veio o nome pejorativo de canteiro de bota alta, alcunha dada pelos montevalenses, que por inveja assim os apelidavam. Costume interessante era a prenda de casamento dada aos noivos. Cada padrinho, de ambas as partes, dava um saco de trigo, além de pagar as despesas com o registo ou igreja, bem como o fato da noiva. As prendas eram dadas no dia a seguir ao casamento, no chamado “jantar de galinha”